quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Quando uma toalha faz toda a diferença num jogo - Opinião por Micael Sousa

Para ser coerente quer começar com uma declaração informativa: gosto de atender aos pormenores, mas só quando me apetece. Hoje dedico este texto aos suportes sobre os quais jogamos os nossos jogos de tabuleiro. Quando digo jogos de tabuleiro deveria provavelmente dizer jogos de mesa, porque muitos deles são de cartas para meter nas ditas mesas. No entanto, existem outros, que se podem inserir nestas categorias, que nem mesa precisam, por isso fico-me novamente pela designação de jogos de tabuleiro. Vou acrescentar o termo modernos, porque para os outros já não tenho paciência. 


Vou então falar de mesas, toalhas e bases de jogos. Já joguei muitos jogos em todo o tipo de mesas e toalhas, e até mesmo sem elas. Ao ver uma publicação do Carlos Santos com alguns dos seus jogos preferidos de 2018, numa sequência de partilhas que lançamos nos Boardgamers de Leiria, lembrei-me de algo que há uns anos me vez comprar toalhas novas. Na publicação fotográfica do Carlos o jogo em causa estava exposto sobre uma tolha de rendas. Apesar das rendas serem espetaculares, e nem serem dos atoalhados mais expressivos, pois há muitos outros padrões imensamente mais intensos cromaticamente, nem uns nem outros são ideais para jogar um jogo em todo o seu esplendor. Também vivi esse drama, em que jogava alguns jogos que tentavam criar múltiplos ambientes ao apostarem na expressividade gráfica para melhorar a experiência de jogo, sobre toalhas que destruíam esse objetivo. 

Usando o exemplo das mesas de jogo, dos típicos panos verdes, decidi optar por algo semelhante. Comprei 3 toalhas de tecido liso: azul, verde e preto. Consoante o tipo de jogo, e a paleta de cores, escolho a toalha mais adequada. Há uma tendência para os jogos com algum tema marítimo ficarem associados à toalha azul e os jogos espaciais à preta. A verde é a mais generalista de todas, serve para quase todos os jogos. Acabou por ser uma opção barata.

Existem outras opções, tal como os playmat generalistas ou próprios para cada jogo, o que fica dispendioso se quiserem ter um para cada jogo, ou nem sempre servir para os jogos mais expansivos sobre a mesa. Habitualmente estes playmates são pensados para jogos de cartas. Mas ainda mais caro são as mesas de gamer, daquelas com base para componentes, bebidas, com a área de jogo rebaixada e revestida a tecido monocromático, habitualmente verde, e com tampos que podem ocultar os jogos em pausa. Mas para quem possa, esta é, com certeza, a melhor opção.

Pode parecer um pormenor, mas acho mesmo que a base em que expomos um jogo pode realmente melhorar a experiência de o jogar. Um dos principais motivos para se apreciar um jogo consiste na capacidade de imersão na dinâmica do dito jogo. Para isso contam os componentes, o tipo de jogo e, mais que tudo, as pessoas e a sua predisposição para o jogo. Sendo que pode ser estratégico criar um bom ambiente para que as pessoas então criem a construção social do jogo que gera o sentido de imersão e envolvência de qualidade na dinâmica. Os adereços podem contar muito, tal como a luminosidade e o próprio conforto dos participantes.

Assim, se não puderem ter as mesas de gamer e ou os playmates para os jogos que os conceberam, uma toalhinha à maneira é uma forma simples e barata de contribuir para melhorar a experiência visual de jogo.

Nota de agradecimento ao Carlos Santos por ter sido a musa inspiradora para este texto, pelo bom gosto em jogos e por um grande sentido de humor.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Em que língua devemos falar sobre jogos de tabuleiro – Opinião por Micael Sousa

Escrever ou falar em inglês aqui no blogue e no canal de Youtube foi algo que já ponderei. O meu inglês não é nada de espetacular, mas com treino e um guião previamente feito a coisa fazia-se. Mas depois será que os conteúdos seriam tão naturais e espontâneos? Penso que não seriam, e que se perderia imenso.  Aqui no Jogos no Tabuleiro percebemos que nos divertíamos mais e que os conteúdos eram mais relevantes se fossem quase de improviso, ainda que os textos tenham sempre uma componente de reflexão e certos vídeos obrigam a planear e burilar a ideia. Não que fique espetacular, mas para ficar, pelo menos, percetível.


Mas estamos imensamente condicionados, caso quiséssemos levar isto mais a sério. O público português é muito reduzido, e nem sempre conseguimos chegar ao espaço brasileiro. Isto tem imensos impactos nas visualizações dos conteúdos. Crescemos, mas muito lentamente. O nosso objetivo não é crescer à bruta, nem transformar isto numa fonte de receitas, embora se aprecie sempre a interação que as pessoas que nos acompanham. 

Por outro lado, há uma espécie de missão nesta opção de usar a língua portuguesa. Existe uma tendência de quem participa ativamente neste hobby em o divulgar e querer captar mais público. É normal, e algo que destaca esta atividade/passatempo das demais. Queremos partilhar o que achamos ser bom, também porque os jogos são sociais e queremos ter com quem jogar e falar sobre estes assuntos. É tudo muito orgânico. 

No entanto também me questiono: se será que realmente estes esforços individuas de criação de conteúdos estão a chegar realmente a novos públicos. Claro que fazemos isto, tal como todos os demais criadores de conteúdos em Portugal – porque dificilmente seria de outra forma -, porque gostamos do que fazemos, e principalmente porque nos diverte. Embora exista sempre o desejo de querer reconhecimento pelo que se faz, algo que faz parte da condição humana, esta vaidade e necessidade egoísta. 

Este pequeno texto tem o objetivo de refletir sobre o tema e de tentar perceber até que ponto vale a pena continuar fazer estas coisas na nossa língua. Valerá a pena?

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Algumas experiências sérias com jogos colaborativos - por Micael Sousa

Tenho feito, em nome individual ou com os meus colegas dos Boardgamers de Leiria, várias sessões de aplicação de jogos de tabuleiro modernos. Isto, em toda a sua diversidade de aplicação, tem permitido uma dupla vertente de experimentação e fundamentação teórica da própria aplicação.

Pessoalmente tenho utilizado os jogos segundo a metodologia e conceitos dos Serious Games, em que se identificam objetivos concretos e depois se escolhem jogos para os cumprir. Estas aplicações  relacionam-se com necessidades de formação de especialidade, mas também de processos de planeamento e afins.  Nos Boardgamers de Leiria, o trabalho tem sido mais direcionado para o apoio a projetos sociais e educativos, quer com sessões de ludoterapia, integração social e apoio a atividades educativas, utilizando o potencial dos jogos na aprendizagem formal e informal. 

Colaboro também com o grupo das metodologias colaborativas do Govint – Fórum da Governação Integrada. Neste grupo que desenvolveu uma ferramenta de apoio aos processos colaborativos, ajudei a que fosse posteriormente adaptada em sessão praticas de testes a soluções de jogos. Podem ver essa solução aqui

Teste do Magic Maze com o grupo das metodologias colaborativas do Govint

Através deste grupo do Govint foi possível testar também a aplicação de jogos de tabuleiro colaborativos, uma vez que é um género popular entre os novos designs de jogos e que podem ser ferramentas poderosas para alavancagem de múltiplos processos, especialmente dos colaborativos, utilizando o potencial motivador da dimensão lúdica dos próprios jogos. Um desses testes decorreu no dia 24 de novembro no Centro Escutista Nacional de Fátima. Estavam nessa sessão cerca de quatro dezenas de responsáveis pela formação dos Escuteiros de todo o país. Aplicamos os jogos: “Passa o Desenho”, direcionado para a cocriação de ideias do interesse dos escuteiros; “Magic Maze”, “Hanabi” e “The Mind” para identificar os requisitos e os procedimentos que levam ao sucesso dos processo colaborativos. 

Sessão colaborativa com Escuteiros

Os participantes tiveram a oportunidade de registar a sua opinião sobre essa sessão. O balanço global foi bastante positivo, ficando apenas o pedido para mais tempo de assimilação dos jogos e reflexão, tal como a referência a alguma confusão e alvoroço gerada pelos participantes durante os jogos. Poderíamos fazer várias leituras disto, mas parece-me que essas anotações comprovam a imersão e entusiasmo sentidos pelos participantes. Ou seja, quando os jogos cumprem os objetivos traçados inicialmente, que neste caso era o apoio à colaboração, podemos facilmente concluir que são ferramentas lúdicas que garantem envolvimento e participação natural. Por si só os jogos não são uma panaceia, ou solução para todos os males, mas se devidamente aplicados, moderados, debatidos e criadas sistematizações de análise e reflexão podem ser ferramentas que faltam a tantas atividades ditas sérias.

Do que fui falando com os participantes, responsáveis pela implementação de atividades nos Escuteiros, mas também porque alguns deles eram professores, surgiram muitas perguntas curiosas. Queriam saber mais, e foi ver telemóveis a tirar notas dos jogos. Seria de esperar que tentassem aplicar e implementar alguns destes jogos nas suas atividades. Mas nunca pensei que fosse tão rápido. A professora Ana Pinto, logo na semana seguinte, partilhou fotografias de utilização do Magic Maze e The Mind nas suas aulas sobre gestão de equipas na Escola Profissional da Figueira da Foz . Foram os próprios alunos a chegar às conclusões e conteúdos da matéria formal. Dificilmente poderia haver um processo tão inclusivo e participativo, que neste caso se focou na colaboração com utilização de jogos de tabuleiro modernos, pois dificilmente uma equipa pode funcionar bem sem colaboração. Tenho a certeza que o tempo da aula passou a voar e que ficou marcada na memória dos alunos.

Magic Maze na Escola Profissional da Figueira da Foz
autoria: Ana Pinto

The Mind na Escola Profissional da Figueira da Foz
autoria: Ana Pinto

Saber disto, que estas ações de promoção dos jogos como ferramentas sérias depois são replicadas deixa-me muito contente. É o inicio de um longo caminho, e nada me deixa mais desgostoso do que assistir  ao desperdício que é não utilizar estes jogos, pois são ferramentas sérias e baratas, que geram dinâmicas divertidas como dificilmente outras podem garantir. 

Estes jogos estão aí, à nossa disposição, e cabe-nos divulgá-los porque os conhecemos. Se mais pessoas os experimentassem não duvido que estariam muito mais generalizados do que estão hoje em dia, e aplicados a múltiplos usos e para muitos fins além da mera diversão. 
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