sexta-feira, 22 de abril de 2016

Le Havre - Análise por Micael Sousa

No porto de Le Havre, o maior de França, a azáfama é constante, num corrupio de pessoas, bens, mercadorias várias e barcos. Há armazéns, empresas e industrias transformadoras. Há comerciantes que tentam investir o seu capital e habilidade negocial para ganhar mais dinheiro e fazer crescer as suas empresas. Há oportunidades e múltiplos caminhos para a fortuna, tão animados como o tráfego de embarcações que chegam do oceano e todas as outras que sobem e descem o rio Sena a partir deste importantíssimo entreposto.

Le Havre é um jogo de gestão e estratégia de Uwe Rosenberg, o famosíssimo designer de jogos, muito conhecido pelo seu Agricola. Le Havre foi o seu título imediatamente seguinte.

Em Le Havre cada jogador gere um empresa que opera no maior porto de França, tendo de procurar as melhores oportunidades de negócio, quer seja transacionando bens, gerindo os transportes de barcos, construindo edifícios e armazéns que lhes dão competitividade económica, usando os edifícios de terceiros ou um misto de tudo isto e outras coisas. Quem mais conseguir construir e ganhar dinheiro mais perto ficará da vitória, pois os edifícios, barcos e o dinheiro valem pontos de vitória no fim do jogo. Como é óbvio, ganha quem tiver o maior dos somatórios.

De um modo simples e resumido, em Le Havre temos apenas um trabalhador para gerir – trata-se de um worker playcement. O dito trabalhador serve para ativar os edifícios que se podem ir construído, de modo a ampliar as possibilidades de jogo. Cada jogador, na sua vez de jogar, pode apanhar recursos do porto, que se vão acumulando, ou construir e/ou ativar um edifício com o seu trabalhador disponível, desde que o edifício que pretende utilizar não esteja ocupado pelo trabalhador de outro jogador. Todos os edifícios estão disponíveis para serem utilizados pro todos os jogadores, incluindo os que a cidade vai construindo e os dos jogadores adversários, sendo que haverá habitualmente um custo a pagar ao proprietário pelo uso do seu edifício. Isto gera uma interatividade muito interessante. Quando o jogador opta por recolher bens do porto não mexe o seu trabalhador, o que estrategicamente é útil para bloquear caminhos aos adversários. Como ação adicional qualquer jogador pode comprar diretamente os edifícios disponíveis com dinheiro, evitando a necessidade de o construir – que implica perder uma jogada e ter os recursos materiais necessários, mas uma vez que gasta dinheiro perde potenciais pontos de vitoria, pois aqui o dinheiro são pontos diretos. O rol de edifícios disponíveis vai sendo atualizado à medida que se vão construindo novos, tal como vão surgindo aleatoriamente, em momentos determinados, novos edifícios especiais além das opções base iguais em todos os jogos.
Fonte da imagem: http://www.boardgamemeeplelady.com/2015/01/26/return-saturday-gaming/

A título de exemplo, podemos construir uma padaria na qual podemos transformar farinha, gastando energia, para receber dinheiro e pão, produto esse que serve de comida e pode ser tocado por outras coisas. A comida é importante pois temos de suportar custos de manutenção e pode ser utilizada para poder ativar alguns edifícios. Existem imensos edifícios pensados para trocar, potenciar e valorizar os imensos recursos que o jogo tem.

Podemos também adquirir barcos que nos garantem carregamentos gratuitos de comida e nos permitem escoar e vender diretamente bens que vamos produzindo.
Haverá mais por descrever, incluindo os harvests, os edifícios especiais, as dívidas, etc.
Trata-se de um jogo com muitas opções. Excelente para quem gosta de gerir imensos recursos e montar motores de produção e combinações, ensaiando sistemas de eficiência. Existem imensos caminhos para a vitória, sem haver uma estratégia dominante, especialmente quando jogamos com quantidades maiores de edifícios especiais. Há alguma interatividade que é sempre agradável neste tipo de jogos. Ao fim ao cabo, é um jogo gratificante para quem aprecia ver o produto final do seu jogo materializado em imensos recursos, edifícios que se relacionam, barcos e etc. No final de um jogo de Le Havre ficamos com a sensação que realmente estivemos a fazer algo, sendo que, a meu ver, atenua qualquer eventual frustração de perder o jogo.

O jogo pode ser um pouco longo, mas existe sempre a possibilidade de optar pela versão mais curta. Se incluirmos também a expansão e jogarmos com dois baralhos de cartas de edifícios especiais, pois são imensos, revelando duas cartas de cada vez, uma do deck de base e outra da expansão, o jogo ganha ainda mais variedade e interesse, pois será sempre diferente.

Jogo: Le Havre
Ano: 2008
Avaliador: Micael Sousa
Tipo: Estratégia / Gestão
Tema: Porto
Preparação: 10 minutos
Duração: 75 - 120 minutos
Nº de Jogadores: 1 - 5 

Nº Ideal de jogadores: 3 - 4

Dimensão: Média
Preço médio: 50€
Idade: 12+

Qualidade dos Componentes: 8
Dimensão dos Componentes: 8
Instruções/Regras: 8
Aleatoriedade: 9
Replicabilidade: 8
Pertinência do Tema: 9
Coerência do Tema: 8
Ordem: 8
Mecânicas: 8
Grafismo/Iconografia: 8
Interesse/Diversão: 9
Interação: 8
Tempo de Espera: 7
Opções/turno: 9
Área de jogo: 6
Dependência de Texto: 7
Curva de Aprendizagem: 7

Pontuação: 8,10



sexta-feira, 8 de abril de 2016

Jogar para Ganhar ou Vencer ao Jogar? - Opinião por Edgar Bernardo

O texto de hoje tenta refletir sobre a atitude face ao jogo de tabuleiro que me encontro a jogar. Devo procurar vencer em todas as ocasiões ou apenas quando estou a abertamente a competir com os outros?

Esta questão surge-me recorrentemente, diria que em cada jogo que faço. Avalio o jogo, os companheiros de mesa e como me sinto naquele momento. É um jogo que "merece" a minha atenção? É um jogo que já joguei ou que domino? Os meus companheiros de mesa têm a mesma atitude que eu perante o jogo?
 
 

A resposta a estas perguntas determina como encaro cada jogo. Confesso que obviamente procuro vencer os jogos em que participo, não apenas por uma questão de competitividade, mas por respeito ao tempo que os restantes companheiros decidiram despender na experiência. Todos merecem que encare a atividade com um certo nível de respeito e seriedade, mas não demais!

Os meus companheiros de jogo não são meus adversários, por mais que os respeite, ou ao jogo, ou mesmo se me encontro num torneio. Para mim os jogos de tabuleiro são antes de mais uma atividade social, uma ferramenta de aperfeiçoamento emocional e racional. Não seria capaz de ter essa atitude de vitória em qualquer situação neste contexto.

Sei, e convivo regularmente com amigos e outros jogadores, que encaram cada jogo como uma arena de domínio intelectual, ou de destreza, ou qualquer outra característica que mereça ser medida ou pesada naquele momento.

Não sou capaz de esmagar um adversário em Agrícola ou noutro qualquer jogo só porque domino o jogo e aquelas pessoas com quem jogo nunca o jogaram. O mesmo acontece noutros jogos. Mentiria se não reconhece-se que gosto de competir com os meus amigos mais próximos, ou com alguns colegas de hobbie, mas depende do dia, e do jogo... depende...

Na verdade, valorizo a atividade como um momento de interação mais do que "interatividade" competitiva, se me permitem um retorno a um tema passado. Faço por facilitar uma boa experiência, em particular a novatos no hobbie ou num jogo, do que procurar vencer. Vencer só fará sentido em jogos "federados". Entrar em "campo" para vencer uma partida do campeonato, seja de futebol, basket, sueca ou Catan.

Há até um momento em que desvalorizo por completo a possibilidade de vencer ou de até levar "a sério" um jogo. Esse momento é a primeira vez que o jogo, em particular jogos mais densos. Ouço a explicação, muitas vezes sem prestar muita atenção a todos as regras e nuances, e procuro acelerar o jogo ao máximo de forma a terminar e recomeçar com um conhecimento mais aprofundado do mesmo. Ou até verificar que de facto não merece esse olhar mais aprofundado.

Jogar para ganhar pode ser o mote de muitos quando fazem o “setup” de um jogo, no meu caso, e sem “mea-culpa” admito que prefiro vencer ao jogar cativando mais gente para o hobbie, aprofundando os laços com outros ou criando novos... se por ventura nesse processo acabar por ganhar um jogo ou outro, menos mal, mas não perco o sono, não faço birras por perder ou parecer que vou perder, nem tento mudar as minhas últimas 3 rondas porque me esqueci de reclamar um ponto ou dinheiro que tinha direito... como diria o outro “são coisas minhas!”.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Quando parar de comprar jogos? - Opinião por Micael Sousa

Em mais um texto de opinião abordo um tema que deve ser familiar a muitos dos aficionados deste hobbie dos jogos de tabuleiro. A partir do momento em que se começa a entrar neste mundo as solicitações e vontade de comprar jogos cresce exponencialmente. Parece que nunca temos o número suficiente e/ou na devida diversidade. Se pensamos de início que meia dúzia de jogos chegam, depois percebe-se que não é bem assim.
 
Fonte da Imagem: Jeux Descartes em Lyon
 
Quando era miúdo o Risco e um Monopólio chegavam. Claro que tinham de chegar, pois não se conhecia mais nada melhor. Depois o Magic: The Gathering, por ser um trading card game, incentivava gastar verdadeiras fortunas. Mas quando me deparei com o Catan e Carcassonne pensei que ali estava então uma solução de jogos de tabuleiro que dispensava os custos brutais do Magic. Estava enganado. Quando fui à primeira Leiriacon percebi que havia um mundo de jogos imenso por experimentar e que todos os anos saiam coisas novas, muitas coisas mesmo. Uma coisa leva a outro e começamos a ver sites da especialidade, vídeos de reviews e exemplificação de jogos. Pessoalmente, até quando se vai ao estrangeiro as lojas de jogos de tabuleiro parecem destacar-se das demais. Começamos a ver jogos em todo o lado, cada vez mais interessantes e que alimentam um consumismo que se pode tornar insustentável.

É que isto dos jogos custa dinheiro e ocupa espaço. Um jogo custa entre os 30€ e os 40€ em média. Não é preciso muito esforço para rapidamente acumular dezenas deles. Podemos nem ter tempo para os jogar, mas vamos querer ter sempre mais e mais, pois queremos ter aquele tema diferente, aquela mecânica nova, o jogo para o grupo x ou y, vários que funcionem para determinado número de pessoas em particular, aqueles para queimarmos uma tarde inteira e nos sentirmos realizados, os que nos fazem rir, os que nos queimam o cérebro, os que servem para introduzir pessoas novas no hobbie, aqueles que jogamos quando temos apenas alguns minutos disponíveis, os que usamos para reforçar relações sociais, aqueles que são da autoria dos nossos designers preferidos (incluindo amigos).

Há quem diga que não devemos ter mais de 100 jogos. Outros dizem 50. Há sempre a possibilidade de vender e trocar se tivermos em excesso…

Sinceramente não sei a resposta para qual o número certo a ter de jogos, mas algum dia terei de chegar a essa conclusão. O dinheiro e o espaço são limitados. Para já interessa-me ter diversidade e oferta na minha coleção de jogos para as determinadas funções e para o tipo de experiência de jogo que quero ter à mesa.

Então e vocês? Quando acham que se deve parar de comprar jogos de tabuleiro, qual o limite, qual o critério a definir para a nossa própria coleção?
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