sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Como o GEST levou os jogos de tabuleiro modernos ao Hospital Dona Estefânia: Uma experiência de voluntariado na área dos jogos de mesa

Contar a história do projecto Jogos ao Serviço necessita de algum contexto, principalmente no que toca ao grupo que começou o projecto, o GEST.

O GEST, Grupo de Estratégia, Simulação e Táctica é o grupo de jogos de mesa, tabuleiro e miniaturas do Instituto Superior Técnico, aliás funciona como secção autónoma da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico, sendo não só uma das mais antigas secções autónomas da AEIST, como um dos mais antigos grupos de jogos de Lisboa.


A dinâmica do GEST foi sempre variando ao longo dos anos, entre períodos de quase inactividade, até à organização bem sucedida de convenções de cultura popular de média dimensão. Na altura em que o projecto Jogos ao Serviço começou, o GEST tinha começado a organizar encontros de jogos de tabuleiro semanais no Técnico, com uma afluência regular média, chegando a encher duas salas, entre jogos de tabuleiro e RPGs. Na altura tentávamos descobrir novas formas de divulgar as actividades do GEST e o hobby dos jogos de mesa em geral. Foi então que, enquanto pensava sobre o assunto, me deparei com uma publicação no Facebook que assinalava uma data importante para a Operação Nariz Vermelho e a partir daí as ideias começaram a encaixar e a transformar-se num plano. Entrámos em contacto com o Hospital Pediátrico Dona Estefânia, por estar geograficamente próximo do Técnico, recordo-me especialmente do formulário de contacto ter uma extrema limitação de caracteres, foi um desafio explicar o que queríamos fazer em poucas palavras, mas pouco tempo depois tínhamos uma resposta interessada da parte do Gabinete de Comunicação do Hospital e a oportunidade de explicar o que queríamos fazer.  Nas comunicações e reuniões seguintes, a direção do GEST e o gabinete estabeleceram os objectivos da parceria. Iriamos uma vez por semana, à ala dos adolescentes do Hospital, ensinar e jogar jogos de tabuleiro modernos com os pacientes que estivessem presentes e interessados. Todo este trabalho foi feito em conjunto com o Tiago Serra, o Carlos Branco e mais tarde o Rafael Pereira, todos eles integrantes da direção do GEST. O Tiago Serra foi sempre o mais ambicioso nos jogos que propunha jogar nas sessões, o Rafael Pereira deu sempre uma dinâmica de ambição e tentativa de levar o projecto um pouco mais longe, o Carlos Branco teve sempre um enorme entusiasmo por levar o projecto adiante. Após alguma troca de ideias, chegámos ao nome "Jogos ao Serviço ", numa perspectiva quase religiosaa da palavra Serviço. 


As primeiras sessões foram bastante bem sucedidas. Houve adesão por parte de pacientes, visitantes e profissionais de saúde presentes. Ao longo dos meses seguintes fomos solidificando o projecto com orientação da direção do Gabinete de Comunicação e recrutando novos participantes. Foram muitos os jogos jogados e partilhados naquela ala, alguns deles das nossas coleções pessoais, outros, cedidos pela então Torre de Jogos, outros ainda da, na altura limitada, ludoteca do próprio GEST. Os critérios de escolha foram jogos curtos, fáceis de ensinar e preferencialmente que pudessem ser jogados por um mínimo de duas pessoas. Carcassone, Ticket to Ride, Ponte para El Dorado, Catan, Codenames, Trench, Abalone, Kamisado, Nutriventures , Saboteur, entre muitos outros. Destes, destaco o Carcassone, cuja simplicidade e versatilidade sempre foi uma mais valia neste contexto. 

O projecto foi um esforço colectivo e foi enquanto se manteve como tal foi bem sucedido. Os objectivos iniciais eram simples e directos e tínhamos os meios para os cumprir. Jogos, pessoas e tempo. Mais tarde começámos a recrutar mais voluntários e alguns deles garantiram várias sessões. O Jorge Rosa Alves, o Artur Alves, a Ana Miguens, a Carolina Pereira e a Cristina Alves foram incansáveis a aprender os jogos, a participar nas sessões e no cumprimento de todas as regras que o Hospital nos solicitava.

Durante as sessões interagimos sempre de forma construtiva com outros voluntários presentes no espaço e também com a professora que estava responsável pelo acompanhamento escolar dos pacientes de estadias mais longas. Muitas vezes, familiares e acompanhantes dos pacientes juntavam-se aos jogos e até algumas vezes, jogámos jogos propostos pelos presentes.

Ao longo do projecto levámos o hobby a dezenas, talvez centenas, de crianças de diferentes idades, origens, classes sociais e raças, providenciamos entretenimento com interactividade numa situação que para muitas destas crianças e adolescentes era crítica, mostrando a muitas dessas crianças, jogos que nunca tinham conhecido antes. 

O projecto acabou por terminar por um conjunto de diferentes razões. A mobilização dos voluntários não chegou ao ponto de dar ao projecto uma capacidade de continuar por si só. Na fase final, em grande parte por falha própria, já era um número reduzido de pessoas a garantir a maioria das sessões, o que não permitiu uma renovação geracional efectiva no projecto.

Ficou a experiência de ajudar aquelas crianças e adolescentes a ultrapassar um pouco melhor algumas das horas do seu internamento, a experiência de encetar uma colaboração institucional frutífera quase a custo zero e a oportunidade de, ao longo das nossas semanas de aulas e mais tarde, trabalho, termos algo que nos proporcionava uma enorme realização pessoal.


Autor: Saúl Pereira


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