terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Regras e mais regras: conseguimos dominar todas? - Opinião por Micael Sousa

Dou por mim a não conseguir jogar toda a minha coleção de jogos, nem sequer a saber jogar alguns dos títulos que estão na prateleira. Isto deve-se a uma clara falta de tempo, pois estar constantemente a jogar está longe de ser uma prioridade. No entanto há outro fator que contribui para isto: as regras.


Uma das coisas que me fascina é descobrir novas mecânicas, experiências de jogo no fundo. Isso envolve, obviamente, lidar com muitas e novas regras de jogos. Quando já passámos da centena de jogos conhecidos as coisas podem começar a ficar baralhadas e confusas. Saber tudo isso de cor, especialmente quando não se levam assim os jogos com tanta regularidade à mesa, torna-se difícil. Duvido que não vos aconteça terem jogados, nos últimos a 2 a 3 anos, duas ou três vezes um jogo em que estão constantemente na dúvida quanto às regras, pois nunca há o tempo necessário para se sedimentarem. Pior ainda quando não jogamos bem o dito jogo, violando, inadvertidamente as regras e piorando a experiência.

Não vejo grande solução para isto. Poderia dizer que há um limite para a quantidade de jogos que podemos assimilar e dominar. Mas é impossível fixar esse tipo de conhecimento quanto a indústria está constantemente a libertar jogos, recorrendo a mais e melhores técnicas de marketing, tal como, supostamente, produzindo jogos cada vez melhores.

Quem costuma lidar com novos públicos a quem divulga e ensina jogos de tabuleiro sabe que a reação de quem está a aprender um jogo novo, perante uma imensidão de regras, costuma ser negativa. Dificilmente alguém percebe todas as regras de um jogo de uma assentada, sendo que alguns podem levar cerca de uma hora a ensinar. Imagine-se se tivéssemos de ir a uma aula de uma hora, sem estudar, e de imediato saber a matérias, por vezes ensinada por quem não a domina totalmente ou não tem preparação para comunicar conteúdos de forma eficaz.

Explicar e ensinar jogos é uma arte num mundo cada vez mais rápido e efémero. Não será fácil encontrar pessoas com disponibilidade para gastar horas da sua vida a ouvir explicações deste género, num contexto em que supostamente participam por diversão. Para além disso existe também outra dimensão social importante, que se relaciona com o modo como determinados grupos sociais lidam com regras. Se na Alemanha e Escandinávia poderá ser mais fácil assimilar e implementar um conjunto de regras fixas, cá para o Sul da Europa a nossa informalidade parece não ajudar muito nisso. Obviamente que isto pode ser extremamente estereotipado e preconceituoso, mas serve apenas de exemplo ilustrativo de como o contexto social e cultural tem também influência na relação com as regras dos jogos.

Remato este texto com uma conclusão inconclusiva: há que dominar as regras dos jogos para deles melhor disfrutar, mas somos sempre impelidos a querer experimentar e conhecer mais, o que não facilita nada conhecer bem as regras de todos os jogos que queremos jogar. Podemos concluir também que há muito mais vida para além das regras, que nos pode levar a pensar indiretamente sobre muitas outras coisas da nossa vida.

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