sexta-feira, 16 de junho de 2017

Problemas com as regras dos jogos - Opinião por Micael Sousa

Já me aconteceu tantas e tantas vezes jogar mal um jogo que perdi a conta de quantas vezes me aconteceu. Cheguei a jogar mal alguns jogos anos seguidos. Pessoalmente sou muito propenso a interpretar e simplificar, usando de atalhos heurísticos e lógica para complementar eventuais lacunas de entendimento. Não gosto de perder muito tempo com pormenores nos jogos de tabuleiro, talvez porque me falte tempo para jogar e experimentar tudo o que quero Apetece-me partir logo para o jogo e experimentar, aprendendo enquanto jogo. O problema é que isto pode ter repercuções quase catastróficas para algumas experiências de jogo. Por vezes uma ou duas regras mal interpretadas são suficientes para mudar completamente um jogo. Curiosamente, até poderia ser positivo, porque “jogamos jogos novos”.
 

Brincadeiras à parte, isto das regras dos jogos faz-me pensar em várias coisas. Primeiro, nem sempre os livros de regras estão bem-feitos. Há jogos onde é simplesmente impossível de jogar com os livros de regras originais. Com sorte conseguimos, na comunidade online, especialmente no Boardgamegeek encontrar solução. Por outro, certos jogos têm regras demasiado complicadas, cheios de exceções e casos particulares – parecem a legislação portuguesa. Por vezes, apesar de estar textualmente bem escrito, as interpretações são dúbias, o que gera também problemas, ou então quando as regras parecem avulsas e sem coerência temática ou de conjunto com o espírito do jogo.

Quando temos muitos jogos, quando já experimentamos muitas coisas e quando apenas se levou à mesa uma ou duas vezes essa imensidão de jogos é mais comum errarmos ao jogarmos de cor sem consultar as regras do jogo escolhido, daí os atalhos heurísticos.

O facto de existirem imensos jogos de tabuleiro, cada um com as suas regras próprias, é uma vantagem e desvantagem para o hobby. Não é fácil atrair uma pessoa que lide mal com o tempo longo de explicação de regras, especialmente quando tem pouca experiencia de jogo. É muito comum ter apenas 5 minutos de tolerância para lidar com a novidade, fazendo de imediato um juízo de valor. Por isso, nem todas as pessoas vão aguentar ouvir com atenção, e capacidade de interiorização, explicações de jogos que demoram meia hora e mais. No fundo é como estar passivamente numa aula! Do ponto de visa positivo, toda a variedade, permitem experiências inesgotáveis, o que também pode ser positivo e negativo, dependendo dos gostos de cada jogador.

Parece-me que a obrigação de aprender novas regras seja um dos fatores que pode contribuir para afastar as pessoas dos jogos de tabuleiro. Por norma só cumprimos regras se formos obrigados, e no lazer, seguir um regulamente, não é das coisas mais estimulantes, pelo menos para a maioria das pessoas. Mas claro que ninguém, no seu perfeito juízo vai colocar uma pessoa sem experiência a experimentar um jogo pesado. Podemos sempre começar por coisas mais simples, com poucas regras. Se a pessoa gostar então pode dar ou não o salto para coisas mais substanciais. O problema é que isso nem sempre acontece e que são as próprias pessoas que se recusam a começar pelo básico.

Dei o exemplo anterior como um dado absoluto que representa a maioria das pessoas, mas devem existir muitas exceções. Eu talvez seja um caso à parte, pois adoro aprender e conhecer jogos novos, apesar das regras se misturarem e de inventar quando sinto lacunas. Por mim estava sempre a experimentar coisas novas, fazer 3 ou 4 jogos para melhor perceber a criação em causa e depois avançar para outro. Mas falta o tempo, na prática só se consegue levar à mesa o mesmo jogo com intermitência, ficando todos os demais à espera. Com isso as regras vão-se misturando e depois, sem saber, acabamos por poder estar a desvirtuar grandes jogos, contaminando e criando ideias erradas sobre eles.

Serei o único a passar por isto?

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